A Amazônia e as Eleições de 2022: Saúde e Economia

Para esta conversa, foram convidados Larissa Tukano, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn); Denis Minev, da Bemol; Dra. Érika Pellegrino (UFPA/Altamira); e Eugenio Scannavino Neto, do projeto Saúde e Alegria. Durante o evento também foi realizado o lançamento da galeria virtual de artistas amazônidas, que por meio de suas obras ajudam a Concertação a construir e humanizar os debates, expandindo o imaginário sobre as várias Amazônias. Com o tema “Ciclos Para o Amanhã“, a exposição traz a visão de 16 artistas que se dedicam e lutam pelo chão que habitam.

A abertura ficou a cargo de Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú e secretária-executiva da Concertação, que relembrou os pilares da atuação da rede, que hoje conta com mais de 500 lideranças dos mais variados setores. Apartidária, a iniciativa vem se consolidando como um hub de conhecimento e de encontro pela Amazônia.

Foto geral do Encontro
Foto geral do Encontro

Saúde

“A saúde é básica para a preservação da floresta”.

O médico sanitarista do Projeto Saúde e Alegria levou ao debate exemplos de problemas e soluções vivenciadas na Amazônia, como as dificuldades colocadas pela imensidão do território, a desigualdade das estruturas de atendimento, a viabilidade do atendimento primário – que se mostrou muito efetivo para as condições específicas da região -, e a relevância da telemedicina em um território com essas características.

Para ele, o gargalo está na gestão pública e na qualificação desses atores. “A Amazônia possui especificidades na saúde e indicadores inferiores aos nacionais”, explica. Ele defende que medidas relativamente simples e pouco custosas visando o atendimento primário seriam capazes de aliviar os hospitais, como o abastecimento das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) com equipamentos básicos, implementação da telemedicina e adoção de políticas de prevenção e saneamento.

Eugenio Scannavino Neto
Eugenio Scannavino Neto

“A conexão entre economia e saúde é necessária”.

A professora de medicina da UFPA de Altamira defendeu como prioridades o fortalecimento do planejamento e gestão, o investimento em conectividade e telemedicina, a formulação de uma política de recursos humanos capaz de formar e reter profissionais, e o aproveitamento de outras fontes de financiamento além dos específicos da área.

Érika explicou que a questão da saúde muito se relaciona com temas tratados por órgãos de outras áreas, como o Ministério da Cidadania e órgãos voltados à infraestrutura (saneamento, educação etc.), que podem ser acessados para fins de financiamento de ações de saúde, desde que os gestores estejam mais preparados.

Érika Pellegrino
Érika Pellegrino

Premissas da Concertação para a Saúde

Para fechar esta parte do debate, Lívia Pagotto, gerente de conhecimento do Instituto Arapyaú, apresentou indicadores de saúde da Amazônia Legal e um resumo de caminhos possíveis nesta frente, tais como:

  • o fortalecimento da atenção básica em áreas remotas e das capacidades institucionais, com governança adaptada ao território amazônico (SUS adaptado);
  • acesso a dados e ampliação de capacidades analíticas (governos federal, estaduais e municipais);
  • abordagem de saúde planetária: conexão entre saúde/pandemias/conservação da floresta;
  • infraestrutura e logística partilhadas para a entrega de políticas estruturantes;
  • estabelecimento da Amazônia como território de prática para universidades e centros de pesquisa.
Lívia Pagotto
Lívia Pagotto

ECONOMIA

“A Amazônia é um imenso patrimônio cientifico da humanidade”.

No bloco de debate sobre economia, o empresário e presidente da Bemol ressaltou que a Amazônia não é um problema ambiental a ser resolvido, e sim uma região imensa, com diversidades internas de todos os tipos e que não deve ser abordada sem uma “visão” de prosperidade. Ele lembrou que a ciência brasileira não está voltada para o patrimônio ambiental da Amazônia, onde faltam profissionais, equipamentos e financiamento para pesquisa. Para ele, é possível reinventar o Brasil a partir da Amazônia.

Denis Minev
Denis Minev

“Falta diálogo entre o governo e os povos indígenas”.

A líder indígena da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), entidade que reúne 23 povos indígenas, relatou o trabalho das artesãs indígenas, destacando sua cadeia produtiva sustentável e a dificuldade de compreensão dessa realidade no relacionamento com o mercado. Ela explicou que não se trata de uma produção empresarial, mas de um empreendimento comunitário, que tem seu próprio ritmo e entrega não só os produtos e serviços que vende, mas a floresta em pé, ao mesmo tempo em que preserva tradições, resistência e luta.

Para ela, falta diálogo entre governo e empresas com os povos indígenas, que muitas vezes são vistos como objeto de pesquisa e seres do passado.

Premissas da Concertação para a Economia

Novamente, Lívia Pagotto apresentou as propostas que vêm sendo discutidas no âmbito da rede para este tema:

  • mosaico de atividades econômicas de acordo com as paisagens: bioeconomias, economia da conservação, economia campo-cidade, economia urbana;
  • coordenação inter e intrarregional;
  • inclusão do informal no mercado de trabalho;
  • mobilização de fontes de recursos diversificadas, com a maior mobilização possível de capital paciente no curto prazo;
  • revisão tributária e de incentivos, considerando conservação, clima e biodiversidade;
  • acesso a crédito e a mercados;
  • equilíbrio entre as commodities;
  • aprimoramento da governança e incentivos.

Lugar de fala

“Se a gente não cuidar das pessoas que cuidam da Amazônia, não avançaremos”

Presente no debate, um dos pontos altos do encontro foi a participação de Vanda Ortega Witoto, liderança indígena, professora e técnica de enfermagem no Parque das Tribos, em Manaus, e também da líder indígena Samela Sateré Mawé.

“O olhar do mundo para a Amazônia só existe via satélite. O que acontece aqui embaixo, ninguém vê”, disse Vanda durante seu depoimento, que emocionou a todos.

Samela ressaltou que “quando a gente pensa em Amazônia, temos que pensar nos povos em toda a sua pluralidade”, e completou: “a gente tem que pensar a Amazônia como uma mulher indígena, e as pessoas como sementes e frutos. Não tem como diferenciar o corpo do território, nós nos entendemos como extensão do território”.

Vanda Witoto
Vanda Witoto

Além da ênfase dada às questões relacionadas aos direitos dos povos indígenas e à temática da saúde, ambas convergiram nas suas reivindicações: os povos originários não pedem obras, investimentos ou bens materiais; eles querem ser ouvidos e fazer parte da construção de soluções para o território. Nas palavras de Samela, “nada para nós, sem nós”!

Samela Sateré Mawé
Samela Sateré Mawé
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