Arte: Rakel Caminha
(Re)conhecer a Amazônia pela arte: Atlas Cultural abre inscrições para artistas da região
Plataforma amplia o reconhecimento das múltiplas expressões artísticas da Amazônia Legal
O Atlas Cultural das Amazônias é um atlas digital vivo e colaborativo que reúne informações sobre os múltiplos artistas do território e os insere na geografia da região. Em constante renovação, a ferramenta criada pela Concertação permite localizar artistas por linguagem artística ou estado e já conta com quase 200 cadastrados. Agora, o projeto abre inscrições para sua nova fase, na qual passará a incorporar outras camadas de sentido e escuta.
Entre as novidades, está a possibilidade de encontrar artistas por meio da relação de seus trabalhos com as 4 Amazônias, que são divididas em Preservada (áreas protegidas, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas), Em Transição (sob pressão de desmatamento), Convertida (na qual atividades econômicas já substituíram as áreas naturais) e Urbana (que concentra aproximadamente 70% dos quase 30 milhões de habitantes da região). Essa forma de compreensão das Amazônias foi desenvolvida pela Concertação para melhor identificar as necessidades e ações prioritárias específicas da região, dada a sua pluralidade e diversidade de biomas, paisagens e modos de uso e ocupação do território.
O Atlas também permitirá a identificação de nomes a partir do diálogo de suas obras com os 12 temas estruturantes definidos na série de publicações “Propostas para as Amazônias”. São eles Biodiversidade, Bioeconomia, Cidades, CT&I, Cultura, Educação, Energia, Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais (PIQCTs), Saúde, Segurança, Sistemas Agroalimentares e Ordenamento Territorial e Regularização Fundiária.
Um atlas vivo das expressões amazônicas
Fernanda Rennó, integrante do Núcleo de Governança e gestora da frente de Cultura da Concertação, explica que a iniciativa parte do entendimento de que as artes e a cultura são portas de entrada para o (re)conhecimento do território. Para ela, o Atlas é uma ferramenta que permite ampliar a compreensão da Amazônia para além dos dados técnicos e científicos, ao mobilizar formas sensíveis de percepção e pertencimento.
“A arte é uma aliada essencial para enxergar as muitas Amazônias. Não como algo distante, mas como território vivo, que pulsa e nos convida a (re)conhecê-lo por meio das expressões de quem o habita.” (Fernanda Rennó)
Tendo como pano de fundo o conceito de paisagem oriundo do pensamento geográfico, Rennó esclarece que “a arte e a cultura carregam, em adição ao seu valor estético, ilustrativo ou de entretenimento, camadas complementares de informação”. Ao trazer o ponto de vista de cada artista, as obras oferecem dados que também são essenciais à compreensão da região e auxiliam na proposição de ações e soluções mais ancoradas na realidade local.
A nova fase do Atlas Cultural terá participação de Marcela Bonfim
A premiada fotógrafa Marcela Bonfim, integrante do Núcleo de Governança da Concertação e criadora do projeto “(Re)conhecendo a Amazônia Negra: povos, costumes e influências negras na floresta”, participará da pesquisa para integrar novos nomes ao Atlas, fortalecendo os vínculos entre expressão artística, território e as múltiplas Amazônias que a plataforma busca revelar. Radicada em Porto Velho (RO) desde 2010, Marcela explica que seu trabalho não é uma curadoria, mas sim uma composição entre o técnico e o sensível por meio da ciência e da arte.
Segundo ela, ao reunir diferentes perspectivas sobre o território, a plataforma passa a ser também um observatório público, um ponto de visibilidade onde o artista se encontra e é encontrado. “O artista da Amazônia só precisa de um rastro de luz. Se tiver esse holofote, ele corre atrás do resto”, conclui.
“A Amazônia é raiz, mas também é trânsito. É preciso pedir licença ao território. (Re)conhecer é isso: (re)conhecer o que já existe, respeitar o que pulsa e abrir espaço para quem já está aqui.” (Marcela Bonfim)
A fotógrafa destaca que o Atlas oferece aos criadores oportunidades de conexão com seus pares, curadores, festivais e iniciativas culturais. Ele também abre caminho para que artistas cadastrados sejam convidados para exposições, conteúdos e outras ações da Concertação, funcionando como ponto de partida para futuras composições e intercâmbios.
Uma das ações já confirmadas é a divulgação do Atlas no espaço da Concertação na COP30, conferência da ONU que será realizada em novembro, em Belém (PA).
Se você é artista na Amazônia Legal, preencha o formulário e faça parte da plataforma!
Mais do que uma ferramenta, o Atlas Cultural das Amazônias é um convite à conexão e intercâmbio. O cadastro é simples, aberto e horizontal: qualquer artista da Amazônia Legal pode se inscrever, independentemente de indicação prévia ou validação externa.
De acordo com Fernanda Rennó, “a proposta não é selecionar ou classificar, mas integrar. Cada inscrição amplia a capacidade de percepção da rede e nos ajuda a enxergar as Amazônias por meio da arte”.