A 8ª plenária da Concertação promoveu Um encontro entre iniciativas para apresentar dois documentos que serão compartilhados com a comunidade internacional na COP26: Uma agenda pelo desenvolvimento da Amazônia (da rede da Concertação) e Clima e Desenvolvimento: visões para o Brasil 2030 (processo apoiado pelo Instituto Clima e Sociedade).
Realizada em 18 de outubro, a plenária foi palco de amplo debate e troca de ideias em torno das conclusões e metas dos estudos, além de oferecer aos participantes a oportunidade de assistir a trechos do mini documentário Cipó de Jabuti – Histórias Ribeirinhas da Amazônia e conversar com sua coprodutora e coautora, a jovem ribeirinha Odenilze Ramos.
Fruto de 18 meses de trabalho coletivo e centenas de contribuições de diversas frentes, Uma agenda pelo desenvolvimento da Amazônia teve seu lançamento anunciado por Roberto Waack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, que pontuou que o conteúdo tem como maior ambição ser um documento provocativo, e não definitivo.
O documento Clima e Desenvolvimento: visões para o Brasil 2030, por sua vez, é resultado da contribuição de mais de 300 pessoas, incluindo membros da Concertação. Para Ana Toni, diretora do Instituto Clima e Sociedade (iCS), o principal achado do estudo é o de que a política brasileira para o clima não se sustenta isoladamente, mas precisa ser parte de uma política de desenvolvimento que se fundamente na transição para uma economia de baixo carbono e de justiça social. O documento tem por objetivo, além das discussões na COP26, sensibilizar e pontuar o debate eleitoral que ocorrerá no Brasil em 2022.
O estudo foi liderado por Emilio Lèbre La Rovere (Coordenador do Centro Clima e membro do IPCC) e por Natalie Unterstell (presidente do Instituto Talanoa). Emilio detalhou as conclusões do documento, que aborda três cenários de desenvolvimento para o país e suas emissões, tendo por metas permitir a retomada do crescimento econômico, a neutralização das emissões até no máximo 2050, o atendimento dos compromissos assumidos no Acordo de Paris, a redução da desigualdade econômica e a promoção da qualidade de vida da população.
Natalie Unterstell destacou que, de acordo com os estudos, não é preciso escolher entre desenvolvimento e redução de emissões, uma vez que mesmo o cenário mais ambicioso resulta em crescimento econômico (no mínimo, equivalente ao da alternativa de permanência dos parâmetros atuais) e levam a uma melhoria do emprego e da renda.
Com falas muito apreciadas por todos, Odenilze Ramos relatou a dificuldade de falar sobre as populações da Amazônia em razão da sua invisibilidade. Segundo ela, que trabalha com mobilização jovem e articulação de projetos de turismo sustentável, as mudanças do clima são uma realidade na região e já são sentidas principalmente pelos ribeirinhos, mas é preciso adaptar o discurso para a realidade dessa população se queremos estabelecer um diálogo e promover engajamento.
Os participantes ainda debateram sobre a possibilidade da venda de créditos de carbono de áreas públicas por meio de outorgas, visando a conservar a floresta em pé; a necessidade da redução das emissões da pecuária; e a piora das condições sociais na Amazônia que tem levado ao esgarçamento do tecido social e à presença crescente do crime organizado na região, com relevante impacto sobre o desmatamento.
A estas questões, Natalie Unterstell ponderou que os autores dos documentos reconhecem as dificuldades e complexidades atuais, mas optaram por manter a ambição e traçar caminhos para a promoção de mudanças significativas rumo à neutralização das emissões, ao desmatamento zero, ao crescimento da renda e à redução das desigualdades.
Arte: Rui Machado