Escola da periferia de Belém (PA) desenvolve projeto sobre “fake news” a partir do programa Itinerários Amazônicos

Em atividade realizada por meio dos percursos formativos dos Itinerários, alunos debateram as “fake news” na construção de uma sociedade sustentável. Professor Manoel Ramos, que liderou a aprendizagem, destaca que o protagonismo dos estudantes e a Amazônia como foco foram inéditos na prática pedagógica

Foi na escola pública Governador Alexandre Zacarias Assunção, no bairro do Guamá, na periferia de Belém (PA), que o professor de filosofia Manoel Ramos coordenou seu primeiro projeto dentro do Itinerários Amazônicos. O programa disponibiliza gratuitamente material pedagógico e formação de educadores para o Ensino Médio, com o objetivo de levar para as escolas a Amazônia em toda a sua complexidade ambiental, social, histórica, cultural e econômica. 

Definido em conjunto pela equipe docente das disciplinas da área de humanas e as que compõem as Ciências da Natureza, o projeto com o tema “Sociedade, cultura e meio ambiente: combatendo as fake news na construção de uma sociedade sustentável” foi aplicado às turmas do Ensino Médio e de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Juntos e em diálogo, os alunos percorreram os caminhos para conscientização de seu pertencimento à Amazônia.

A dinâmica do trabalho envolveu três etapas. Na primeira, os alunos pesquisaram o que seriam as fake news e suas consequências para a população e o meio ambiente. Em seguida, alguns foram a campo e outros verificaram na internet a veracidade das notícias. Ao final, as turmas elaboraram dois grandes painéis que, com exceção das fotos, foram construídos com materiais recicláveis coletados nas imediações da escola.

Dedicado às notícias falsas, o primeiro painel abordou narrativas que buscam diminuir ou confundir o entendimento sobre questões como garimpo ilegal, desmatamento, queimadas, invasão de terras indígenas, em especial do povo Yanomami, além de assassinatos e perseguição daqueles que tentam preservar a região.

Apresentando a realidade dos fatos, o segundo painel contradizia as narrativas do primeiro sobre meio ambiente e socioeconomia da Amazônia ao trazer evidências da luta pela sustentabilidade, do marco regulatório, das políticas públicas necessárias e da devastação das terras indígenas.

Para além do muro da escola

Em entrevista à Concertação, o professor Manoel relata que o mais estimulante, além do conteúdo de qualidade, é que o programa não é um produto acabado, uma rota fechada. Ao contrário, “abre caminho para pensar o desenvolvimento da Amazônia a partir do território e de seus povos”. Segundo ele, a proposta é inovadora porque permite que o aluno assuma o protagonismo de seu próprio aprendizado, promovendo uma educação verdadeiramente emancipadora.

O professor lembra que, desde o início, a atividade mobilizou a maioria dos alunos. E com o avançar do projeto, conseguiu atrair também boa parte daqueles que tinham baixa frequência e não costumavam se engajar em exercícios escolares. Emocionado, ele fala dos inúmeros obstáculos socioeconômicos e familiares que esses estudantes, em particular, enfrentam.

Segundo Manoel, a mudança na dinâmica da sala de aula foi impressionante: “os alunos saíram daquela ‘educação bancária’ em que só o professor fala. Inverteram essa lógica e passaram a construir conjuntamente com os professores, que a partir de então puderam ver o quanto de competências, habilidades ocultas e sua própria identidade afloraram durante o processo”.

O professor Manoel avalia que o protagonismo positivo inédito da Amazônia na prática pedagógica possibilitou a professores, alunos e à comunidade desenvolver um novo olhar para a realidade de seu território. Um olhar crítico sobre sua exploração predatória e excludente, que não considera a existência dos povos originários e tradicionais.

O sucesso do projeto da Escola Zacarias Assunção fez dele um exemplo de prática a ser construída nesse novo modelo de educação. Manoel conta que, quando exibiu aos alunos o vídeo apresentado e elogiado pela Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC-PA) e pelo Instituto iungo, foi notável observar “o prazer que eles sentiram ao ver o resultado das suas ações saindo para além do muro da escola”.

O programa Itinerários Amazônicos é uma realização do Instituto  iungo, do Instituto Reúna e da rede Uma Concertação pela Amazônia, em parceria e com investimentos do BNDES, do Fundo de Sustentabilidade Hydro, do Instituto Arapyaú, do Movimento Bem Maior e patrocínio da Vale.