Conhecer a obra de Carmézia Emiliano é mergulhar no esforço permanente da artista em registrar cada detalhe da cultura de seu povo, o Macuxi. Uma obra que em todo traço, cor, forma e cena refletem uma escolha, e é meticulosamente construída em coerência com seu “mantra”: “eu pinto para não esquecer minha cultura”.
Um desejo tão entranhado em sua pessoa que, quando indagada sobre o porquê de nunca ter pintado Boa Vista, cidade onde vive há mais de 30 anos, mostrou espanto com a ideia. Apesar de viver há muito tempo na capital roraimense, a cidade não lhe oferece memórias que queira pintar. “Quem sabe, um dia, eu pinto sobre indígenas que abandonam suas tribos e vêm para cá”, respondeu.
Nas telas de Carmézia, saltam aos olhos cenas do cotidiano macuxi, os mitos e os ritos, as festas, a relação com a natureza e os saberes ancestrais, pintados em cores fortes e repleto de detalhes. Seu olhar de mulher indígena também capta nuances da divisão do trabalho entre homens e mulheres em atividades como plantio, caça, preparo de alimentos e cuidado com as crianças. As cenas vívidas surgem em repetições, como um amuleto contra o esquecimento.