Para abrir o diálogo, uma mensagem em vídeo do fotógrafo Sebastião Salgado, produzida enquanto lançava sua exposição “Amazônia” em São Paulo, deu a tônica da conversa: “Hoje nós estamos no limiar de novas eleições. Nós temos a grande esperança que os novos candidatos tenham uma preocupação com o bioma amazônico, com um projeto de desenvolvimento econômico sustentável para a Amazônia”. Ele destacou a oportunidade representada pela Concertação de levar as vozes da Amazônia e sobre a Amazônia a um número grande de brasileiros, pedindo a todos que votem pela Amazônia.
Com moderação do jornalista Fernando Gabeira, o debate iniciou com Arthur Aguillar, diretor do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), que citou dados sobre saúde na Amazônia e destacou que a região está perdendo posições em comparação com o restante do Brasil quanto à expectativa de vida, indicador comprometido por três fatores principais: o crescimento de casos de doenças endêmicas, afetando a infância; a elevação do número de homicídios e mortes violentas entre jovens; e o aumento de casos de doenças crônicas entre a população 50+. Para o IEPS, há grande relevância em ressaltar o tema da saúde na Amazônia nos debates eleitorais, uma vez que, além de se tratar de um direito humano garantido em nossa Constituição, o tópico é a principal preocupação da população da região e tende a trazer bons resultados para os candidatos.
Na sequência, Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação, sublinhou as conexões e a interdependência entre todos os temas relevantes para o debate eleitoral sobre a Amazônia, defendendo a elaboração de uma agenda integrada e articulada a ser levada aos eleitores e candidatos.
Denis Minev, diretor-presidente da Bemol, frisou que do ponto de vista econômico, o ano de 2022 trará grandes volumes de recursos financeiros em transferências federais de diversos tipos, o que poderá representar um risco de melhora da avaliação do governo atual perante os eleitores. Para ele, o recuo nos indicadores de saúde, educação e outros, tem origem na pobreza e se retroalimenta da criminalidade.
Karina Penha, mobilizadora do NOSSAS (Organização de Direitos Humanos e Socioambientais) e participante do GT Juventudes da Concertação, ponderou que existem diferentes jovens, diferentes Amazônias e diferentes “Brasis”; e que, para muitas dessas juventudes, há que se alcançar ainda os direitos mais básicos. Seu otimismo está na percepção de que em ambientes democráticos como a Concertação, o jovem é visto como parte da solução. O desafio é: como mobilizá-lo? Sua proposta é buscar uma agenda ampla que possa representar as diferentes expectativas das diversas juventudes.
Já Laura Waisbich, do Instituto Igarapé, chamou a atenção para a necessidade de entender a questão da segurança de uma perspectiva multidimensional. Segundo estudos dessa organização, o desmatamento descontrolado tambémamplifica a insegurança pública. As atividades ilícitas alimentam um ecossistema de criminalidade, financiado por economias que nem sempre estão na Amazônia. Ela expressou preocupação com o aumento eloquente do número de registros de armas, de operações policiais e de flagrantes de crimes violentos, ressaltando que essas circunstâncias tornam pertinente propor aos candidatos, em todos os níveis da federação, agendas e planos de metas que incluam a questão dos crimes ambientais e socioambientais.
Para encerrar essa etapa do encontro, o artista grafiteiro Raiz Campos falou de seus laços e vivências amazônicas, expressando a convicção de que a cultura e a arte conscientizam e levam para dentro das comunidades as temáticas discutidas no evento. Ele reforçou a importância da união de forças dos diferentes setores da sociedade na construção de soluções para a região.
Em seguida, passou-se ao debate com os demais participantes. Entre os pontos altos de fala, destacaram-se algumas mensagens como a corrupção atrelada ao desmatamento no território; a vulnerabilidade e os índices de violência na região superiores ao restante do país; a importância do setor empresário na geração de renda e novos negócios para a população local; e a necessidade de um plano concreto de desenvolvimento para a Amazônia para os primeiros cem dias do governo de transição. Ainda: a relevância de ter a Amazônia na centralidade do debate eleitoral e também de se mobilizar eleitores para que votem pela Amazônia.
Do ponto de vista da articulação política ponderou-se que, para além da atenção ao poder executivo, a rede deve atentar também à composição do legislativo, uma vez que faltam representantes no parlamento olhando para esta pauta. O grupo ressaltou que a Amazônia é o tópico mais importante para a comunidade internacional e precisa estar no centro da política externa do novo governo.
Somando-se a tudo isso, o pagamento por serviços ambientais e a criação de um mercado nacional de carbono para financiar mudanças também foi colocado como essencial no processo de desenvolvimento sustentável do território.
Finalmente, apontou-se que 2022 pode ser um ano de alto risco para ativistas ambientais e que é importante priorizar pautas urgentes como o combate ao desmatamento e à grilagem de terras. Para tanto, muitas vezes será necessário “alfabetizar” líderes e suas equipes sobre a Amazônia, criando alianças com os que operam dentro da legalidade na região.