Relacionando temas ambientais ao cotidiano, professora ajuda estudantes a construir conhecimento integrado para além da sala de aula

Nesse processo, Eliane Neres descobriu que aprendia com seus alunos muito mais do que imaginava

Como se adaptar a uma nova metodologia de trabalho em pouco tempo? Esse foi o desafio que Eliane Gonçalves da Silva Neres, professora de História do Ensino Médio no Colégio Militar D. Pedro II, do município de Cruzeiro do Sul (AC), enfrentou com a ajuda do Programa Itinerários Amazônicos.  

Em depoimento à Concertação, Eliane conta que seu primeiro contato com o projeto ocorreu em 2023, por indicação da Secretaria de Estado da Educação do Acre, no contexto da adoção do Novo Ensino Médio. Na época, tanto ela quanto outros professores estavam receosos com a perspectiva de ter que trabalhar com a área das Ciências Humanas, em vez de lecionar apenas a própria disciplina. “Como, formada em História, eu poderia ensinar conteúdos que incluem, por exemplo, Geografia, Filosofia ou Sociologia?”, questiona. 

Durante uma atividade de Formação Continuada, ela descobriu o Programa Itinerários Amazônicos e nele encontrou apoio para desenvolver atividades envolvendo múltiplos temas sobre a Amazônia, em contraposição à experiência de ensinar uma única disciplina. 

A primeira experiência de aplicação desses conteúdos ocorreu durante a preparação para o ENEM 2023. Como muitos alunos demonstraram interesse pela carreira do Direito, Eliane teve a ideia de realizar um júri simulado sobre a questão do Marco Temporal das Terras Indígenas, debate em evidência na época, usando informações sobre os direitos dos povos indígenas encontradas no material.

A experiência a animou, pois mostrou que por meio das atividades de pesquisa os alunos tornaram-se protagonistas do próprio aprendizado. Seu papel foi principalmente o de mediadora, orientando-os para que extraíssem o maior conhecimento possível das informações. Ao fim, a própria turma se surpreendeu com o seu potencial e com o quanto eles exploraram a legislação ambiental. 

Os resultados positivos fizeram com que a professora retomasse a aplicação dos Itinerários em 2024, mas agora optando pelo módulo “Desmatamentos e conservação na região Amazônica”. Desta vez, ela relata, pôde contar com a parceria de uma colega, a professora Evelin, da área de Ciências da Natureza, que reúne as disciplinas de Química, Física e Biologia. Juntas, elas criaram o projeto “Amigos do Meio Ambiente”, que aborda temas diretamente relacionados ao cotidiano dos alunos. Por meio dele, trataram de questões como desastres ambientais, secas, queimadas, enchentes, resíduos sólidos, transição energética e cuidados com a natureza.

Para Eliane, o que mais impactou os alunos foi compreender a relação da matriz  energética com os resíduos sólidos. Todos ficaram muito espantados ao saber que é possível produzir óleo a partir das sementes do açaí e do buriti, pois são recursos rotineiramente lançados ao lixo — o que os alunos consideraram grave, dado que o município não tem um aterro sanitário, apenas um aterro controlado. “Essas informações trouxeram para eles uma consciência mais abrangente”, diz. 

Trazer a realidade das Amazônias para as salas de aula estimulou a realização de outras parcerias, que consolidaram o conhecimento nos temas abordados. Foi assim com uma ONG que trabalha com energias renováveis em comunidades remotas, com a Secretaria de Meio Ambiente do município e com uma cooperativa de coleta de resíduos sólidos recicláveis, por exemplo.

O projeto gerou frutos surpreendentes, como o mutirão para arrecadar fundos e adquirir contêineres de coleta seletiva para a escola, que antes não dispunha de um programa com essa finalidade. Houve também a elaboração de uma cartilha sobre reciclagem e de dois documentários registrando as atividades.

Eliane diz que o que a deixa mais feliz como resultado do projeto é “descobrir a potencialidade dos alunos”, que lhe mostram todos os dias que ela não está só ensinando, mas aprendendo com eles.

O programa Itinerários Amazônicos é uma realização do Instituto iungo, do Instituto Reúna e da rede Uma Concertação pela Amazônia, em parceria e com investimentos do BNDES, do Fundo de Sustentabilidade Hydro, do Instituto Arapyaú, do Movimento Bem Maior e patrocínio da Vale.