Na Ilha de Marajó (PA), alunos redescobrem potencialidades da Amazônia a partir do programa Itinerários Amazônicos
Amplitude de temas nas atividades coordenadas pela professora Patrícia Helena Pereira levou estudantes do Ensino Médio a refletir sobre a relação entre economia, natureza e tradições culturais nas suas próprias vidas
Responsável por coordenar uma equipe de sete professores que implementaram os Itinerários Amazônicos nas três séries de Ensino Médio da Escola Estadual Salomão Matos, em Salvaterra, na Ilha de Marajó (PA), a professora de sociologia Patrícia Helena Pereira se surpreendeu com as reflexões provocadas nos alunos em sala de aula.
O programa disponibiliza gratuitamente material pedagógico e realiza formação de educadores, com o objetivo de levar às classes a Amazônia em toda a sua complexidade. Na escola Salomão Matos, três módulos das Ciências da Natureza foram aplicados: “Bioeconomia, Sustentabilidade e Recursos Naturais” para o 1º ano; “Biodiversidade e Produção de Alimentos” para o 2º ano; e “Desenvolvimento da Amazônia e Ações Legais de Conversação da Biodiversidade” para o 3º ano.
Patrícia conta que a variedade de temas disponíveis nos materiais pedagógicos, aliada à possibilidade de customização das atividades pelo educador, foi o que mais marcou sua vivência com este ciclo formativo. Para ela, os jovens estudantes se depararam com uma quebra de paradigmas ao entenderem que estudar a Amazônia é ir além da floresta, já que os temas do programa relacionam saberes e questões do território a conceitos como sustentabilidade e bioeconomia.
Nessa linha de temas disruptivos, a professora destaca uma aprendizagem sobre os ‘Novos Ciclos de Industrialização’, que abordou uma biofábrica do projeto Amazônia 4.0. Os alunos se impressionaram com a existência de projetos inovadores no território. Além disso, as imagens da estrutura, com referências à cultura indígena e suas ocas, levaram os estudantes a questionar o imaginário comum das Amazônias.
Patrícia explica que a peculiaridade geográfica de Marajó, constituída por um arquipélago fluviomarinho, se diferencia muito de outras paisagens da Amazônia, o que faz com que muitos marajoaras não se percebam como amazônidas.
Para ela, reforçar o sentimento de pertencimento à comunidade é um dos principais objetivos do projeto, dado que “hoje em dia é muito difícil o aluno se perceber como parte de uma comunidade, porque tudo é global. É muito importante trabalhar esses aspectos e resgatar esse sentimento de pertencimento”.
Outros estudos em sala de aula também despertaram nos jovens o entendimento de que a preservação do meio ambiente está relacionada com as tradições culturais e familiares. Esse caso ficou especialmente ressaltado no depoimento de uma aluna, que reconheceu que sua família havia perdido o costume de colher frutas após o desmatamento em uma região conhecida como Mata do Bacurizal.
Essa noção de que a natureza está interligada à vida em comunidade e à própria existência dos alunos se consolidou por meio do exercício “Carta Aberta às Gerações”, produzido pelas turmas do 1° ano. Os estudantes se dirigiram tanto às gerações anteriores quanto às futuras, avaliando as condições em que receberam o mundo e como pretendem torná-las melhores.
“Foi uma conversa entre três gerações por meio de uma carta. A geração atual dialoga com a anterior mostrando os desafios que está enfrentando por causa de todo o desenvolvimento, e aponta possíveis práticas que ela mesma deve fazer para melhorar a situação”, relembra a professora.
Por fim, outra atividade que causou impacto nos alunos foi a “Técnicas Agrícolas e Uso do Solo”. Os estudantes foram a campo entrevistar pequenos agricultores e diagnosticaram uma realidade difícil em que o crédito para investimentos e o conhecimento técnico para aumento da produtividade rural ainda são pouco acessíveis na região. Por outro lado, a prática pedagógica também estimulou a compreensão sobre como a agricultura em seu contexto de atividade econômica local influencia a base alimentar de cada família amazônida.
No segundo semestre de 2024, o mesmo grupo de professores pretende ampliar a experiência e implementar módulos de Ciências Humanas do programa.
O programa Itinerários Amazônicos é uma realização do Instituto iungo, do Instituto Reúna e da rede Uma Concertação pela Amazônia, em parceria e com investimentos do BNDES, do Fundo de Sustentabilidade Hydro, do Instituto Arapyaú, do Movimento Bem Maior e patrocínio da Vale.