Em entrevista à Concertação, Fernanda Stefani, cofundadora e CEO da 100% Amazônia, explica que somente estratégias de longo prazo serão capazes de fazer das Amazônias um exemplo de inovação nos negócios para o mundo.
Segundo ela, para facilitar a construção de um ecossistema de inovação na região, é necessário haver apoio dos governos locais por meio de subsídios e políticas públicas. Por outro lado, as empresas contempladas precisam compreender o poder da inovação para o coletivo.
A executiva aborda os principais desafios e oportunidades para negócios amazônidas, a importância do fortalecimento das comunidades locais e da valorização do conhecimento ancestral, entre outras questões. Confira:
1) Como o conhecimento ancestral pode ser integrado com ciência e tecnologia na criação de produtos inovadores nas Amazônias?
Através da aproximação de pesquisadores acadêmicos trabalhando lado a lado com as comunidades, colaborativamente, respeitando os direitos e o conhecimento destas comunidades. Isso porque a integração do conhecimento ancestral com ciência e tecnologia promove a inovação e contribui para a preservação cultural e ambiental.
Um exemplo típico dessa colaboração é o açaí. Tradicionalmente consumido por comunidades amazônicas, tornou-se um superalimento conhecido em todo o mundo graças à pesquisa científica que comprovou seus benefícios nutricionais. No nosso caso, criamos um extrato clarificado a partir da observação de como as populações tradicionais “tiram a tintura” do açaí.
2) Como a criação de cooperativas de agricultores familiares contribui para o fortalecimento das comunidades locais e a conservação da floresta amazônica?
Apesar de observarmos que a colaboração não é traço cultural na Amazônia, quando os agricultores familiares se reúnem em torno de uma cooperativa, e a fortalecem, eles acabam tendo uma possibilidade de negociar melhor seus produtos. E claro, melhoram de vida.
3) Quais são os principais benefícios e impactos sociais da inclusão socioprodutiva em projetos industriais nas Amazônias para as comunidades e as famílias diretamente envolvidas?
A inclusão socioprodutiva promove o desenvolvimento econômico, social e ambiental na região. Primeiro, porque as comunidades se tornam visíveis, o que é importantíssimo para que as políticas públicas de Saúde e Educação cheguem até elas. Segundo, porque são projetos de longo prazo, que mudam a dinâmica das comunidades.
Entretanto, estes projetos precisam ser planejados e implementados de forma inclusiva, equitativa e sustentável, respeitando os direitos e a cultura das comunidades locais.
A Amazônia é sem dúvida o lugar mais rico do planeta. Não faz o menor sentido termos uma população pobre morando num lugar tão rico.
4) Dentro do âmbito da ciência, tecnologia e inovação, quais são os principais entraves para que negócios como a 100% Amazônia ganhem escala na Amazônia?
O maior entrave é o acesso a capital. Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) requerem uma demanda enorme de capital. Normalmente, apenas multinacionais têm os recursos necessários para esse investimento. Demais empresas devem saber onde estes recursos estão disponíveis e ter uma pessoa responsável para monitorar os editais.
Outros desafios são a falta de um ecossistema formal de CT&I instalado na Amazônia, capaz de atrair pesquisadores e promover um intercâmbio entre os atores, e a falta de dados científicos e tecnológicos sobre a região. Obter estes dados não é difícil, mas requer das empresas uma estratégia bem montada e uso de fontes alternativas.
5) Como os centros de pesquisa instalados no território amazônico podem ser aliados na construção de negócios de impacto?
Através de parcerias e convênios. Mas é preciso que a empresa tenha de fato um olhar prioritário através de uma equipe dedicada trabalhando inovação.
6) Como a automação e a robótica podem ser utilizadas em complexos industriais nas Amazônias? E qual é o impacto dessas tecnologias na produção e sustentabilidade dos negócios?
Tanto a automação quanto a robótica conversam com essa nova geração, que não se vê trabalhando em tarefas repetitivas. Além de aumentar a produtividade, elas promovem a sustentabilidade através de processos mais enxutos e com menor margem de erro. Claro que o nosso desafio na Amazônia é formar jovens para trabalhar com essas novas tecnologias.