Conduzida pela professora Luiara Gomes, a aprendizagem pautada no autoconhecimento foi aplicada para turmas da segunda série do Ensino Médio
Luiara Gomes é bióloga e professora com sete anos de experiência em sala de aula. Em 2023, ministrou a disciplina de Projetos de Vida para os alunos da 2ª série do Ensino Médio na Escola Argentina Pereira Feitosa, na zona urbana da cidade de Capixaba, no Acre.
O programa Itinerários Amazônicos disponibiliza gratuitamente material pedagógico e realiza formação de educadores, com o objetivo de levar para as escolas a Amazônia em toda a sua complexidade. Em depoimento à Concertação, Luiara relata que o módulo “Autoconhecimento, juventudes e formas de habitar o mundo” permitiu aos estudantes se conhecerem com mais profundidade.
O material propõe uma jornada sobre valores pessoais e coletivos para que os jovens compreendam suas identidades. Também os estimula a mapear modos de vida existentes nas Amazônias, descobrindo de que maneira aspectos socioculturais se expressam na formação de cada um e nos futuros imaginados para a vida.
Dois desafios foram logo identificados pela professora. O primeiro diz respeito à baixa autoestima de alguns estudantes, que se manifestaram incapazes de autodeclarar suas qualidades, por exemplo. Já o segundo está diretamente relacionado ao contexto territorial: os alunos não se enxergavam cursando uma universidade, não acreditavam que poderiam ser donos do próprio destino e, assim, não planejavam seu futuro.
Por isso, Luiara afirma que o mais importante foi mostrar que eles podem sonhar e, com base nesses sonhos, planejar seus caminhos. Nesse sentido, segundo ela, os Itinerários Amazônicos “caíram como uma luva”, pois muitos de seus alunos desconheciam as riquezas da Amazônia. Ao longo do projeto, porém, eles aprenderam os valores locais, sua cultura e a potência da floresta preservada. O processo os levou a construir novos olhares e a acreditar que poderiam não apenas sonhar, mas realizar seus projetos de vida dentro do território. “Foi a partir do conhecimento sobre a região e do autoconhecimento individual que a construção de novos olhares aconteceu. Os alunos que inicialmente desacreditavam das possibilidades do território e suas próprias potencialidades, mudaram a forma de ver a Amazônia”, relata a professora.
O aprendizado incluiu uma análise conjunta da obra “A árvore de todos os saberes”, do artista macuxi Jaider Esbell. A partir da discussão sobre o seu significado, cada jovem construiu sua própria árvore de autoconhecimento usando papel ou papelão.
As produções relacionavam os diversos elementos da árvore a certos aspectos da vida: a raiz simbolizava seus sonhos e valores; o tronco, a rede de apoio; os galhos, suas qualidades e pontos fortes; as folhas, seus interesses e desafios; e os frutos, os resultados já conquistados e os desejados para o futuro. Por fim, o conjunto dessas árvores individuais formou uma grande árvore que foi exposta na escola.
A professora conta orgulhosa que alguns desses alunos chegaram a prestar o Enem ainda na segunda série do Ensino Médio e se mostraram estimulados a buscar formação superior: “hoje, eles me mandam mensagens ou fotos sobre cursos que estão fazendo na terceira série. Eles buscam cursos que podem fazer pelo celular. Eles estão buscando, e quanto mais você busca, mais longe você pode ir. Isso é maravilhoso, é muito bom!”.
O programa Itinerários Amazônicos é uma realização do Instituto iungo, da rede Uma Concertação pela Amazônia e do Instituto Reúna, e em parceria e com investimentos do BNDES, do Fundo de Sustentabilidade Hydro, do Instituto Arapyaú, do Movimento Bem Maior e patrocínio da Vale.